domingo, 10 de dezembro de 2023

CONTOS E PROSAS 2023

 


Não levou muito tempo até que a chuva começasse. Veio tão forte que o motorista da jardineira foi obrigado a fazer uma breve parada por que os limpadores de para-brisa não deram conta da tromba d’água que caiu. Foi então que Cândido, apesar do vidro embaçado da janela, viu duas garotas se protegendo da chuva num ranchinho à beira da estrada. Entre raios e trovões, o coração de Cândido parecia querer saltar fora do peito. Do outro lado, a garota que deveria marcar para sempre a sua vida, também o observava. Parecia um botão de rosa sob o bombardeio dos pingos da chuva. De tão molhado, o vestido amarelo grudado à pele exibia o lindo corpo de menina moça e seus cabelos dourados ao sabor do vento que varria de um lado para outro o rancho de latas de leite de uma indústria de lacticínios.

A tempestade não durou mais que cinco minutos. Da janela Do veículo já era possível enxergar a torre de uma igrejinha. Não estavam a mais que trezentos metros da praça central do povoado e, assim que a jardineira teve o motor acionado, passaram pelas meninas que, de tão distraídas com os jovens viajores, pisavam mais sobre as poças d’água que sobre o lastro da estrada. Cândido se lembrou da música que ouvira naquela manhã no toca-fitas do Corcel amarelo: “Rain Memories”, Memórias da Chuva, com Paul Denver. Estranhamente, ambos sentiram medo; medo de se perderem daquele casual encontro e nunca mais se reencontrassem.
Assim que o motorista encostou a velha jardineira no ponto de embarque e desembarque, o olhar de Cândido não desgrudou das meninas até que virassem à esquerda em uma rua na cabeceira da praça. Porém, de um último olhar antes de virar a esquina, Cândido fez uma leitura de pensamento: *Ela vai voltar!*, concluiu. Enquanto isso, seu amigo não pensava noutra coisa que não fosse um sanduíche e uma garrafa de refrigerante gelado.
Na pracinha, com a esperança de rever seu lindo “botãozinho de rosa molhado”, Cândido ficou a observar os passarinhos em festa nos galhos de uma caneleira em frutificação, enquanto o amigo, bem informado por um habitante local, seguiu rumo à única lanchonete do bairro. Naquele instante o Sol deu suas caras. Como criança assustada com a chuva, aos poucos perdeu o medo voltando a brilhar novamente entre nuvens rarefeitas de algodão. Os manacás de jardins, com floração tardia nos braços da Mantiqueira, inebriavam o ambiente com um doce e suave perfume. As abelhas, num constante vai e vem entre flores e colmeias, não davam trégua ao bem cuidado jardim do pitoresco “Morada do Sol”.
Cândido, entretido com a algazarra dos beija-flores, não percebeu a chegada do amigo trazendo nas mãos um pão com mussarela e uma garrafa de coca-cola. Ao mesmo tempo, do outro lado do jardim, sob a sombra de uma jovem acácia, a mais linda flor de “Morada do Sol” o aguardava. Cândido, com coração a mil, agradeceu a gentileza do amigo, porém recusou a oferta.
_Não vai tomar nem a coca, seu tonto? // Insistiu o amigo.
_Não!... Obrigado!... Sei que está ficando tarde... Mas, por favor, me aguarde no bar por mais alguns minutos.
_Fica frio!... Sem pressa!
Enquanto o amigo caminhava para a lanchonete, Cândido seguiu em direção à bela princesinha dos cabelos dourados que, percebendo sua intenção, se levantou e veio ao seu encontro. Por um momento, ambos tiveram a impressão de estarem caminhando sobre nuvens. De pernas bambas e corações palpitantes, se viram frente a frente a dois passos de se tocarem. Seus olhares se cruzaram; suas bocas tinham sede; seus lábios molhados se mordiam de desejo. Do outro lado da praça, a sentinela que a acompanhava não desgrudava os olhos de ambos os lados da rua. Parecia bastante ansiosa, temendo por algum imprevisto.
Apesar das pernas bambas e o suor excessivo, Cândido tomou a iniciativa:
_Oi!
_Oi!
_Posso saber seu nome?
_Claro!... Meu nome é Lucy!... E o seu?!
_Chamo-me Cândido!... Não é um nome tão bonito quanto o seu.
_Obrigada!... Adorei seu nome!... Você está visitando alguém no bairro ou apenas de passagem?
_Somos estudantes... Estamos vindo de “Espírito Santo das Araucárias”... Meus pais moram em uma fazenda num bairro conhecido como “Voz do Vento”... Você conhece?
_Sei onde fica... Certa vez passei por lá com meus pais... Fomos visitar uma tia doente no município de “São Francisco do Mogi”.
_Não posso parar muito tempo... Meu amigo está ansioso à minha espera... Você pode me dizer se esse ônibus que nos deu carona faz algum horário para “Caracol” no domingo?
_Sim... Às três da tarde, em ponto, ele parte.
_Tenho que visitar meus pais, mas amanhã estarei nesta mesma praça por volta do meio dia... Gostaria muito de vê-la novamente.
_Eu também!... Acho que nem vou dormir direito... Tenho medo de não te encontrar outra vez.
_Preciso seguir adiante... Meu amigo deve estar impaciente... Mas antes quero te fazer uma pergunta.
_Faça!
_O desejo de beijar tua boca está me matando... Posso te beijar, Lucy?
Por um instante a garota sentiu que poderia ter um “piripaque”. A pele de seu rosto tornou-se rosada; seu coração batia tão forte que podia ser ouvido a um metro, que era a distância que os separava. Lucy olhou para a sentinela que, mesmo apreensiva, usou o polegar de sua mão esquerda e respondeu com um sinal de positivo. Suas mãos não paravam de suar. Com voz meio rouca, proferiu sua resposta:
_Sim!... Quero muito o teu beijo... Só te peço que não faças mau juízo de mim.
Cândido aproximou-se de Lucy e, com as mãos envoltas em seus cabelos dourados, puxou-a de encontro ao seu peito, suspirou fundo, inebriou-se no perfume de sua pele, antes de se perderem num beijo apaixonado.
Assim como o cérebro, o paladar e o olfato também têm suas memórias e, ainda que passassem cem anos daquele primeiro encontro, ambos jamais esqueceriam o doce sabor daquele beijo, o qual ficaria registrado para sempre em suas vidas.
No domingo de manhã, já a par das novidades daqueles primeiros quinze dias de ausência, apesar da felicidade de estar junto à família, Cândido saiu a cavalo pela fazenda; porém, por nenhum segundo tirou Lucy do seu pensamento.
Aquele lindo domingo de céu azul não lhe parecia um dia qualquer. As flores do campo se exibiam mais coloridas e perfumadas. Até os passarinhos cantavam mais alegres, em sintonia com os seus pensamentos. A “primeira vítima” dos arroubos daquela paixão adolescente foi um frondoso pé de jequitibá que, a golpes de canivete, teve seu tronco ferido. As inicias “C & L” no centro de um coração ilustraram uma curta frase: “Lucy, eu te amo”.
Após o almoço de domingo, o pai de Cândido, que o levaria até o vilarejo de “Morada do Sol” para tomar o ônibus, percebendo certa ansiedade no filho, perguntou:
_Cândido!... Não acha que está sendo precipitado?... Afinal, o ônibus parte somente às três da tarde, não é isso?
_Pai... Na verdade eu estou em dúvida: não sei se ouvi treze ou três horas da tarde... Melhor irmos mais cedo que perder a jardineira... Não acha?
Mal sabia ele que o filho estava apaixonado e não via a hora do reencontro com sua amada.
Por volta das treze horas, senhor José encostou seu jipe num ponto de ônibus. Bem que desconfiou que a linda garota sentada em um banco à sombra de uma árvore, não estava ali por acaso. Fingindo não prestar atenção, abençoou o filho e retornou à fazenda. Lucy, com um lindo sorriso nos lábios, não continha sua alegria por aquele feliz reencontro. Cândido, caminhando em sua direção, tinha nas mãos um botãozinho de rosa. Antes de beijá-la, pediu licença para ajeitar em seus cabelos o lindo adereço roubado. O céu, de tão azul se confundia com os canteiros de lírio, e o beijo de Lucy, de tão doce, com mel jataí, cujo aroma recendia por toda a praça...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

CAMINHOS DO OURO (Ouro Fino-Paraty)

1) RESUMO

 

 

Este livro é a síntese de uma pesquisa do autor, este que vos escreve, sobre as evidências físicas e históricas relacionadas aos caminhos trilhados por antigos tropeiros e demais envolvidos na logística de transporte do ouro até as casas de fundição e portos dos litorais do Rio de Janeiro e de São Paulo ao longo do tempo em que durou a “saga aurífera” em “São Francisco de Paula do Ouro Fino”. Numa breve passagem pelas obras do grande jornalista Bernardo Saturnino da Veiga, em variadas edições dos famosos “Almanachs Sul-Mineiros”, embora o assunto não seja abordado de maneira explícita, foi possível detectar inúmeras pistas deixadas pelo autor nas descrições dos caminhos percorridos em suas andanças por diversos municípios e vilarejos mineiros. Esta síntese aborda, também, o extenso e rico arquivo de imprensa deixado pelo professor e jornalista português, João Pereira Elias Amarante, em seu semanário “O Caldense”, que, literalmente, ajudou a escrever a história dos municípios sul-mineiros em formação nos meados do século XIX e início do século XX. João Pereira Elias Amarante e Bernardo Saturnino da Veiga, além de vários outros jornalistas e escritores renomados da época, por terem sido contemporâneos aos desbravadores e mineradores que atuaram nos meados do século XVIII, em seus veículos de imprensa, registraram boa parte do movimento de ocupação populacional da região, como nos casos dos municípios pioneiros que nasceram da “saga do ouro”, dentre eles; Ouro Fino, Campanha e Cabo Verde. Portanto, o livro “Caminhos do Ouro/Ouro Fino-Paraty” é fruto do legado histórico deixado por esses dois grandes nomes do jornalismo sul - mineiro, aos quais, com gratidão, respeito e apreço dedico “in memorian” este singelo documentário.

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De onde viemos ou para onde vamos, não dá para saber. A única certeza é que o planeta Terra é um campo de concentração involuntário, que, à custa de muita dor e sofrimento, a ferro e fogo vai forjando a consciência da humanidade.

Laércio J Carvalho

Ouro Fino; novembro de 2023

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OBSERVAÇÃO

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terça-feira, 18 de julho de 2023

 O TREM FANTASMA DA ESTAÇÃO RIO TINTO 

Genealogia das Famílias Dias de Carvalho, Resende Lara, Fonseca, Assis de Melo, Mello, Junqueira, Lima, Lemos, dentre outras em Caldas, Santa Rita de Caldas, Poços de Caldas, Ouro Fino e Região.

Autor: Laércio J Carvalho

Editora: Palafita Book 



1-RESUMO

 

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Este livro, mais que os estudos genealógicos sobre as famílias pioneiras no município de Santa Rita de Caldas e região, traz no título a simbologia de um “Expresso Invisível” viajando de algum lugar remoto do passado para uma indeterminada e imprevisível “Estação do Futuro”. Nesse simbólico “Trem Fantasma” viajam os nossos antepassados, viajaremos nós e os nossos descendentes a partir de uma determinada estação no espaço tempo simbolizando a cidade natal e o país de origem de cada  viajante. Especificando um caso pessoal: da “Estação Rio Tinto”, cidade portuguesa pertencente ao município de Gondomar, distrito do Porto, embarcou para o Brasil o meu hexavô, Capitão José Antônio da Silva, nascido em 17 de dezembro de 1708, para se casar em uma capela de Lagoa Dourada-MG, com minha hexavó, Maria Helena de Jesus Rezende, filha de meu heptavô, João de Rezende Costa e Helena Maria de Jesus, pais do Inconfidente José de Rezende Costa (pai), morto durante seu degredo em Guiné-Bissau onde cumpria uma pena de 12 anos de prisão por conspirar ao lado do Mártir Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, contra a Coroa Portuguesa. De um entroncamento vindo da “Estação São Nicolau”, freguesia de Lisboa, ao lado de minha octavó, Maria Joaquina Fortunata, embarcou meu octavô, Antônio Jozé da Roza, escrivão de Sant’Anna do Sapucay, pai de minha heptavó, Anacleta Ignácia Joaquina Roza e de sua irmã, Anna Josepha Joaquina, nascida na Freguesia de São Francisco de Paula do Ouro Fino no ano de 1754 e batizada no mesmo ano numa capela da Freguesia da Campanha da Princesa, atual Campanha - MG. De outro entroncamento, advindos da “Estação Cidadelha”, antigo distrito do Porto, embarcaram para o Brasil, por volta de 1760, meus heptavós, Francisco Dias de Carvalho e Tereza Batista, pais do meu hexavô, Alferes Manoel Dias de Carvalho, nascido em Piranga-MG no ano de 1766. Manoel Dias, casado com Quitéria Rodrigues, era pai de meu pentavô, Capitão e Juiz de Paz Joaquim Dias de Carvalho, casado com Anna Francisca Carolina Ferreira. Joaquim Dias e Anna Carolina viveram no distrito de São José do Paraíso, atual cidade de Paraisópolis-MG, entre os anos 1780/1830. Eram pais do Capitão Cândido José de Carvalho, meu tetravô nascido em Paraisópolis no ano de 1811, um dos cofundadores da cidade de Santa Rita de Caldas-MG ao lado do Capitão Antônio Martins, considerado o seu fundador oficial. O Capitão Cândido José de Carvalho era casado com Joana Theodora de Jesus Ferreira (Gonçalves), sobrinha do guarda mor Joaquim Ferreira Gonçalves. De muitos outros entroncamentos, passageiros embarcaram rumo à “Estação Santa Rita de Cássia do Rio Claro”, atual Santa Rita de Caldas-MG: da “Estação Sant’Anna do Sapucay”, por volta do ano 1880, embarcou minha bisavó Beralda Maria de Mello, trineta do Alferes Manoel Pereira da Paixão, filho de Anacleta Ignácia Joaquina, que era filha do escrivão Antônio José da Roza; da “Estação Lagoa Dourada”, entre os anos de 1806 e 1860, embarcou meu pentavô Coronel Gabriel Antônio da Silva Rezende, casado com Ignez Higina da Silva Tavares. Gabriel era filho do Capitão Elias Antônio da Silva Rezende e Anna de Jesus Góes e Lara; da “Estação Santa Rita do Rio Claro”, atual Nova Rezende, embarcou o meu bisavô materno, José da Fonseca, pai de meu avô, Eduardo Fonseca de Carvalho e de seus irmãos, Agostinho José da Fonseca, José Vicente da Fonseca Filho e outros. Ainda de um entroncamento da “Estação Santa Rita do Rio Claro”, entre os anos de 1830 e 1860, embarcou meu trisavô, Coronel Francisco Alves de Araújo, avô de minha avó materna, Hortência Alves de Araújo. ////E foi no ano de 1958 que o “Trem Fantasma da Estação Rio Tinto”, trazendo em suas composições os genes de todos os meus antepassados, mergulhou nos trilhos imaginários de minhas artérias, em direção à “Estação Ouro Fino”, estação essa de transição, quando então, esse que vos escreve, que hoje é trilho, tornar-se-á passageiro para seguir viagem rumo à “Estação Infinito” embebido no vermelho hemoglobina das artérias de sua futura descendência. Conforme mencionado nas considerações finais desse livro, cada um de nós, enquanto ser vivente sobre a Terra, traz em sua carga genética resquícios de memória de todos os antepassados. Memórias essas, escondidas no subconsciente e, muitas vezes, reveladas em sonhos ou “Déjá vu”, expressão francesa usada para descrever a impressão de já ter visto antes, paisagens ou cenas as quais temos certeza absoluta de jamais tê-las visto ou assistido. A “Mãe Natureza”, n’um surto de genialidade, desenvolveu seus meandros para eternizar a vida, e “Se a vida levou bilhões de anos para brotar e evoluir das pedras, por que motivo se renderia à morte? Definitivamente, isso não faz sentido”. Para fechar o resumo, o capítulo 18 traz uma síntese sobre a fundação da cidade de Ouro Fino com base em documentos de época expostos no capítulo 19, “Arquivo de Documentos”.

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 NAS ONDAS DO ARCO-ÍRIS-Evidências Científicas da Imortalidade da Alma 

Autor: Laércio J Carvalho

Editora Itacaiúnas


 

RESUMO 1

        Durante a reconquista do Reino de Nápoles, perdido para a Áustria com o Tratado de Utrecht que pôs fim à “Guerra da Sucessão Espanhola”, Luiz Henrique, um jovem português da Província de Trás-Os-Montes, se desertou das tropas de Carlos de Bourbon e ficou gravemente ferido durante a fuga, sendo encontrado desacordado por uma jovem órfã criada pelo tio em um mosteiro beneditino próximo a Fondi na antiga Via Appia sentido Nápoles-Roma. Era o dia 10 de maio de 1734 e como de fato o Reino de Nápoles havia sido tomado naquela madrugada, para não criar transtornos para a Santa Sé, o jovem português fugiu para a cidade de Terracina depois de ter seus ferimentos tratados pelos beneditinos e por Soraia que envolvida emocionalmente com o desertor decidiu seguir seus passos numa grande aventura de travessia da Espanha a cavalo depois de ficarem à deriva por quatro dias no Mediterrâneo e terem o barco em que viajavam destruído por uma tempestade a caminho de Marselha. Do relacionamento do jovem casal nasceu uma paixão avassaladora que ousou desafiar a barreira do tempo; porém, seguidos pelo temível “Quebra Ossos”, um desafeto de Luiz Henrique e braço direito de Carlos de Bourbon, após atravessarem a divisa com Portugal, “baixaram a guarda” imaginando estarem livres da perseguição. Dias depois da chegada ao Bairro Alto de Lisboa Soraia foi surpreendida pelo inimigo e, numa tentativa desesperada de fuga, sofre um terrível acidente que lhe custa, além da própria vida, também a do filho de apenas dois meses que levava no ventre. Desiludido com a perda dos dois maiores amores de sua vida Luiz Henrique parte para o Brasil e se embrenha nos sertões sem fim da Capitania de São Paulo após a descoberta de ouro no quilombo de “São Francisco de Paula do Ouro Fino” criado por “Santa Sombra da Meia Noite”, um frade beneditino desertor do Mosteiro de São Bento, perseguido pelas tropas de Simão Gago do Regimento de Milícias de Jacareí. Numa tentativa de encontrar respostas objetivas aos dilemas existenciais que afligiam sua alma, Luiz se aproximou de Iacina, uma jovem guaianá arrematada num leilão na Vila de São Vicente, através da qual tem os primeiros contatos com a filosofia milenar dos povos ameríndios em relação à existência humana e à imortalidade da alma. Envolvido afetivamente pela jovem aborígene, mesmo com as lembranças de Soraia ainda latentes em sua memória, Luiz desposou Iacina em uma cerimônia aos moldes tupi-guarani ministrada pelo cacique Îagûara com auxílio do pajé da aldeia tupinambá do “Mojiguaçu” ou “Grande Rio Que Serpenteia”. Na madrugada da noite de núpcias, Iacina, a jovem esposa guaianá é alertada em sonhos, pelo mesmo pajé, de que seu marido tinha um encontro marcado com a morte representada por uma cobra de chocalho incumbida de cumprir o pacto com o destino. Iacina, numa luta inglória, não consegue evitar que Luiz Henrique suba a montanha em direção à floresta “Ybyun” com o objetivo de traçar uma trilha de fuga para os garimpeiros quilombolas caso fossem atacados pelas tropas do coronel Simão Gago. Dito e feito, na manhã seguinte Luiz Henrique vai ao topo da montanha e é picado por uma cobra cascavel. Isolado na mata, sem um antídoto que pudesse reverter o potencial veneno, na manhã seguinte, vem a falecer nos braços de sua jovem esposa que, na noite anterior, em sonho, havia recebido uma nova mensagem do velho pajé tupinambá, a qual foi revelada ao marido em seus últimos segundos de vida: “Quando bebê jequitibá alcançar o céu, Soraia estará de volta para Luiz Henrique”. O jovem português é sepultado por sua esposa e por seus amigos à margem de uma trilha indígena no solo de terra preta da floresta das araucárias de “ybyun”, ao lado de um rebento de jequitibá-rei com cerca de dois anos de idade, deixando viúva sua esposa Iacina, a “Borboletinha de Asas Douradas”, conforme o significado do nome no idioma tupi-guarani. Duzentos e quarenta anos depois, exatamente no ano de 1974, um jovem estudante, filho de um fazendeiro da região, é surpreendido por uma experiência metafísica em uma estação ferroviária da cidade de Ouro Fino, no sul do estado de Minas Gerais. Uriel, com idade de dezessete para dezoito anos, aguardava uma tia na plataforma de desembarque quando cruzou com uma jovem aborígene portando um colar de sementes no pescoço e um cocar de penas em sua cabeça. Ao se fitarem, frente a frente, na porta do vagão de passageiros, Uriel teve a nítida sensação que já se conheciam há séculos. Passando por ele, a jovem seguiu direto ao quadro negro de avisos da bilheteria onde deixou uma mensagem escrita. Por alguns segundos, distraído com a tia, Uriel perdeu o contato visual e a mesma desapareceu como a névoa matinal sob os primeiros raios de sol. Sem alternativa o jovem estudante seguiu em direção ao quadro negro onde a misteriosa aborígene havia deixado a seguinte mensagem: “Bebê jequitibá alcançou o céu. Soraia está de volta. Procure tapi’i rapé, lugar onde a anta bebe água”. Sem encontrar nexo na frase escrita, Uriel regressou à fazenda dos pais onde perdeu uma bela noite de sono tentando desvendar o enigmático texto deixado no quadro negro da estação ferroviária. Dias depois, uma jovem de dezesseis para dezessete anos chamada Licínia, ao passar por uma trilha numa antiga fazenda de escravos por nome “Ibiúna”, que também era de propriedade da família de Uriel, percebeu uma roseira isolada próxima a uma restinga de mata. Ao tocar uma rosa, Licínia passou por uma intrigante experiência. Numa cena fantasmagórica viu um homem caído próximo a um riacho. Parecia desacordado e tinha um ferimento grave na parte superior do crânio. Licínia, muito assustada, gritou a mãe que veio em seu socorro e implorou para que a filha ficasse o mais distante possível daquele lugar sinistro que, provavelmente, se tratava de uma antiga sepultura. Licínia prometeu não se aproximar do local; porém uma força misteriosa a atraía para aquele ambiente místico ao qual retornaria uma hora mais tarde. No mesmo instante, Uriel, a pedido do pai, visitou a Fazenda Ibiúna para salgar os cochos e fazer a contagem do rebanho. Na falta de uma novilha, montou seu cavalo e partiu em direção ao bebedouro do gado, também conhecido como “poço das antas”, local onde, provavelmente, encontraria a tal novilha desgarrada deitada à sombra de um pé de cedro ou do centenário jequitibá-rei cuja copa, de tão alta, passava a impressão de estar tocando o céu. Licínia, levada por uma força misteriosa desobedeceu à mãe e seguiu rumo ao “poço das antas” tentando responder a uma pergunta que vinha das entranhas de sua alma: quem era aquele homem? Por que, mesmo desacordado, buliu tão profundamente com seus mais íntimos sentimentos? E ali, ao lado do imenso jequitibá-rei, Uriel e Licínia se viram frente a frente. Seus olhares se cruzaram, seus corações podiam ser ouvidos à distância. Envolvidos em um beijo doce e apaixonado, tiveram a sensação que já se conheciam há séculos, embora nunca tivessem se encontrado. Ao menos é o que eles imaginavam. Enquanto se beijavam, no alto do centenário jequitibá-rei um trinca-ferro desafiava uma orquestra de pássaros-pretos reforçada por pintassilgos e canários-da-terra.

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CAMINHOS DO OURO/OURO FINO-PARATY

 https://www.youtube.com/watch?v= 6fx1liEq96Q&t=1534s